Palestina: vigilância e luta
O momento não é de expectativa, é de vigilância e de luta
Há situações em que a classe dominante tem de mudar alguma coisa para que tudo fique (ou procure que fique) na mesma. É o que nestes dias tem acontecido com múltiplas declarações de dirigentes de grandes potências da União Europeia, e não só, a distanciar-se verbalmente do criminoso bloqueio à entrada de ajuda alimentar na Faixa de Gaza. A situação é de tal forma dramática e acusadora, a resistência do povo palestiniano é tão tenaz e tão heróica e a solidariedade com a causa nacional palestiniana tão ampla, que se tornou impossível, mesmo aos mais empedernidos apoiantes de Israel, não esboçar algum distanciamento em relação aos seus crimes.
Mas onde está o reconhecimento e condenação do genocídio em curso aos olhos de todo o mundo? Onde estão as sanções que os EUA e a UE são tão lestos a aplicar ilegalmente a tantos países? Onde está o corte de relações diplomáticas ou a suspensão ou anulação de acordos de cooperação política, económica e militar? Dizem apoiar a “solução de dois Estados” e está mesmo em preparação uma conferência no quadro da ONU copresidida pela França e pela Arábia Saudita, mas continuam a conviver com a sistemática expulsão dos palestinianos das suas casas e das suas terras e com a insolente negação sionista de um Estado Palestiniano independente. E sobretudo continuam a fornecer as armas que diariamente massacram homens, mulheres e crianças numa operação que continuam a defender como sendo em “legítima defesa” embora, cinicamente, a considerem “desproporcionada”. Quando Kaja Kallas, a “Alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança” vem declarar (Euronews) que «o bloco [UE] iria examinar se Israel violou as suas obrigações em matéria de direitos humanos ao abrigo do artigo 2.º do Acordo de Associação UE-Israel…» está tudo dito. Aquilo que é apresentado como distanciamento da barbárie sionista e gesto humanista perante crianças que estão a ser assassinadas pela arma da fome, não só não condena Israel como suscita a dúvida de que aquele Estado terrorista esteja a violar «as suas obrigações em matéria de direitos humanos».
Palavras de distanciamento não faltam. São mesmo de registar positivamente declarações do Secretário-Geral da ONU que vão para além das habituais inconsequentes «preocupações». Mas a condenação frontal do Estado-fora-da-lei continua a faltar e os seus crimes continuam impunes. A invocação de «violação do direito humanitário» sem essa condenação e sem medidas que atem a mão criminosa do poder israelita objectivamente mais não são que manobras para contornar e se possível enterrar o essencial: o direito do povo palestiniano ao seu Estado independente e soberano nos termos definidos pelos próprios palestinianos e o seu movimento de resistência. As tentativas de instrumentalizar a dramática situação na Faixa de Gaza para levar a água ao moinho de sinistros planos de expulsão do povo palestiniano e ocupação territorial em que os EUA estão particularmente interessados e empenhados, exige a mais firme condenação. O momento não é de expectativa, é de vigilância e de luta. É imperioso prosseguir e dar ainda mais força à solidariedade com o povo palestiniano.