Palestina: vigilância e luta

Albano Nunes

O momento não é de expectativa, é de vigilância e de luta

Há situações em que a classe dominante tem de mudar alguma coisa para que tudo fique (ou procure que fique) na mesma. É o que nestes dias tem acontecido com múltiplas declarações de dirigentes de grandes potências da União Europeia, e não só, a distanciar-se verbalmente do criminoso bloqueio à entrada de ajuda alimentar na Faixa de Gaza. A situação é de tal forma dramática e acusadora, a resistência do povo palestiniano é tão tenaz e tão heróica e a solidariedade com a causa nacional palestiniana tão ampla, que se tornou impossível, mesmo aos mais empedernidos apoiantes de Israel, não esboçar algum distanciamento em relação aos seus crimes.

Mas onde está o reconhecimento e condenação do genocídio em curso aos olhos de todo o mundo? Onde estão as sanções que os EUA e a UE são tão lestos a aplicar ilegalmente a tantos países? Onde está o corte de relações diplomáticas ou a suspensão ou anulação de acordos de cooperação política, económica e militar? Dizem apoiar a “solução de dois Estados” e está mesmo em preparação uma conferência no quadro da ONU copresidida pela França e pela Arábia Saudita, mas continuam a conviver com a sistemática expulsão dos palestinianos das suas casas e das suas terras e com a insolente negação sionista de um Estado Palestiniano independente. E sobretudo continuam a fornecer as armas que diariamente massacram homens, mulheres e crianças numa operação que continuam a defender como sendo em “legítima defesa” embora, cinicamente, a considerem “desproporcionada”. Quando Kaja Kallas, a “Alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança” vem declarar (Euronews) que «o bloco [UE] iria examinar se Israel violou as suas obrigações em matéria de direitos humanos ao abrigo do artigo 2.º do Acordo de Associação UE-Israel…» está tudo dito. Aquilo que é apresentado como distanciamento da barbárie sionista e gesto humanista perante crianças que estão a ser assassinadas pela arma da fome, não só não condena Israel como suscita a dúvida de que aquele Estado terrorista esteja a violar «as suas obrigações em matéria de direitos humanos».

Palavras de distanciamento não faltam. São mesmo de registar positivamente declarações do Secretário-Geral da ONU que vão para além das habituais inconsequentes «preocupações». Mas a condenação frontal do Estado-fora-da-lei continua a faltar e os seus crimes continuam impunes. A invocação de «violação do direito humanitário» sem essa condenação e sem medidas que atem a mão criminosa do poder israelita objectivamente mais não são que manobras para contornar e se possível enterrar o essencial: o direito do povo palestiniano ao seu Estado independente e soberano nos termos definidos pelos próprios palestinianos e o seu movimento de resistência. As tentativas de instrumentalizar a dramática situação na Faixa de Gaza para levar a água ao moinho de sinistros planos de expulsão do povo palestiniano e ocupação territorial em que os EUA estão particularmente interessados e empenhados, exige a mais firme condenação. O momento não é de expectativa, é de vigilância e de luta. É imperioso prosseguir e dar ainda mais força à solidariedade com o povo palestiniano.



Mais artigos de: Opinião

Munidos de projecto alternativo e um rumo claro!

Na sequência das eleições legislativas, o Comité Central esteve reunido. O objectivo foi avaliar a situação resultante das eleições e definir linhas de trabalho mais imediatas. Com o agravamento da correlação de forças na Assembleia da República, as circunstâncias são agora mais exigentes para...

À bomba e à fome

As imagens têm circulado, embora poucas vezes cheguem aos noticiários, e nunca com o destaque que mereciam: crianças prostradas, de olhar apático e tão esqueléticas que os contornos dos ossos se revelam sob a pele. De parecido só vimos, na História, os sobreviventes dos campos de concentração nazis em 1945 ou as crianças...

É tempo de (re)agir

O AbrilAbril informou na semana passada que, após uma Reunião Geral de Alunos realizada no passado dia 25 de Fevereiro, estudantes da Escola Secundária de Sampaio, em Sesimbra, estavam a ser ameaçados com sanções disciplinares por exercerem liberdades democráticas.  A acção desenvolvida pelos estudantes seguiu todos os...

Nininho, a Azambuja e outras canções

A Câmara Municipal da Azambuja contratou Nininho Vaz Maia para o maior concerto da bicentenária Feira de Maio, festa com impacto em toda a região. Nininho Vaz Maia é um músico com carreira em crescendo nos últimos dez anos, com muitos concertos e presença em populares programas televisivos. Cigano, tem vários sucessos...

Os lucros dos grupos económicos não são “notícia”

Este título não é rigoroso. Com uma simples pesquisa encontramos pequenos apontamentos sobre os lucros das principais empresas a operar no país. É o caso dos lucros da ANA – Aeroportos, empresa controlada pela multinacional francesa Vinci, que no ano passado atingiram um novo recorde de 511 milhões de euros, mais 22,5%...