A porta para o abismo

Cristina Cardoso

Só a luta dos que defendem a Paz pode travar este caminho

Estiveram reunidos na semana passada os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da NATO para antecipar a Cimeira deste bloco político-militar belicista que se realiza nos próximos dias 24 e 25 de Junho, em Haia. O compromisso com o aumento das despesas militares por parte dos países-membro foi mais uma vez vincado. Não é novidade, não o será também nas conclusões da cimeira. A bitola tem vindo a crescer significativamente desde que Obama, em 2014, apontou para a meta de 2% do PIB para as despesas militares de cada país. Trump avança agora com a bitola de 5% do PIB.

São metas que para os diversos países, incluindo Portugal, esbarram com a realidade económica e social, mas que, mesmo que não atingidas, têm pressionado para um aumento significativo das despesas militares. Segundo o Instituto Internacional de Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI), de 2015 a 2024 os gastos militares cresceram 37%. Só em 2024, os países europeus da NATO gastaram 396 mil milhões de euros, valor que contrasta com os 130 mil milhões gastos pela Rússia. O governo português, como bom aluno do imperialismo norte-americano, já veio anunciar que poderá atingir a meta dos 2% de despesas militares, que PSD e PS tinham acordado para 2029, já no fim de 2025. Poderão significar mais 1100 milhões de euros que não vão para a saúde, educação ou habitação.

Para “olear” o complexo da indústria militar e o negócio da guerra é preciso abrir os “cordões à bolsa” dos fundos públicos, e para que tal avance, para além da vontade política dos governos, há que moldar a opinião popular, pois quer-se o povo, quem verdadeiramente paga a factura, quieto e calado. A retórica da “ameaça russa”, a dita “defesa” dos países da UE e NATO, a instigação do medo, a falsificação da história e a brutal ofensiva ideológica em curso são o caldo criado que procura levar à aceitação do caminho do militarismo e da guerra.

Os tempos que vivemos são perigosos. A escalada da guerra ganha fôlego. O reforço do militarismo e da corrida aos armamentos; os ataques às instalações da aviação nuclear estratégica da Rússia; a Alemanha que avança a todo o gás com o seu rearmamento e com o aumento da ajuda militar à Ucrânia pondo em cima da mesa o fornecimento dos misseis Taurus; a equiparação, por parte de Macron, da questão de Taiwan com a crise na Ucrânia, ou a acusação do secretário da Defesa norte-americano à China de preparar o uso de força militar em Taiwan, sugerindo que a NATO tem motivos para intervir na Ásia-Pacifico; o genocídio levado a cabo por Israel na Palestina com a cumplicidade dos EUA, da UE e da NATO – são a porta para o abismo que o imperialismo procura impor à Humanidade.

Só a luta dos que defendem a Paz pode travar este caminho. O Encontro pela Paz, que se realizou no passado dia 31 de Maio no Seixal, com cerca 1000 participantes, de norte a sul do País, e subscrição de mais de 100 organizações, foi um importante contributo para esta luta que tem que crescer. As massivas acções de solidariedade com a Palestina, no mundo e em Portugal, restauram a esperança na Humanidade. Que ninguém falte à chamada no próximo dia 17 de Junho, em Lisboa, pelo fim ao genocídio, pelo reconhecimento do Estado da Palestina, já!

 



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