Milhares de palestinianos manifestaram-se
na Faixa de Gaza e na Cisjordânia
Um ano de Intifada
A Intifada, revolta palestiniana que se iniciou a 28 de Setembro de 2000, fez sexta-feira um ano. Milhares de palestinianos saíram à rua para assinalar o aniversário.
Segundo dados oficiais, em 365 dias foram assassinadas 824 pessoas, entre as quais 623 palestinianos, 169 israelitas e 23 árabes israelitas, e milhares de outras ficaram feridas. Com a paz longe do horizonte, os números continuam a aumentar.
O movimento do presidente palestiniano Yasser Arafat, Fatah, anunciou que vai prosseguir com a Intifada. A Fatah considera «legítima a luta dos palestinianos». «A Intifada e a resistência são a opção da Fatah para pôr fim à ocupação e aos colonatos e estabelecer um Estado palestiniano independente com Jerusalém como capital», refere o movimento em comunicado.
Seis outros movimentos da oposição palestiniana reafirmaram a sua determinação para continuar com a Intifada e o seu desacordo quanto ao encontro de Arafat e o ministro israelita dos negócios estrangeiros, Shimon Peres, que se realizou na passada semana, para consolidar o cessar-fogo anunciado a 18 de Setembro.
No dia do primeiro aniversário da Intifada, milhares de palestinianos manifestaram-se na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, prometendo continuar a sua luta contra a presença militar israelita nas duas regiões. Pelo menos seis palestinianos morreram em confrontos com soldados israelitas durante os protestos.
Entretanto, milhares de iraquianos desceram às ruas de Bagdad para manifestar o seu apoio aos palestinianos. Os manifestantes, onde se encontravam também responsáveis do partido Baas, no poder, ergueram tabuletas onde se apelava à «resistência heróica do povo palestiniano» e se condenava «as atrocidades sionistas contra os palestinianos».
Refugiados palestinianos no Líbano marcaram igualmente esta data com uma manifestação. Cerca de três mil pessoas marcharam até ao campo de refugiados no Sul do Líbano e queimaram imagens do primeiro ministro israelita Ariel Sharon.
Frágil cessar-fogo
Entretanto, dois operários palestinianos foram mortos domingo no norte da Cisjordânia por tiros disparados por soldados israelitas quando tentavam entrar em Israel.
Em Hebron, foi ainda encontrado o corpo de um motorista de táxi, que terá sido assassinado por israelitas durante a madrugada. Para além destas mortes, o exército israelita bombardeou ainda o local onde estava a ser construído o porto de Gaza.
Os incidentes surgem quando vigora um frágil cessar-fogo, imposto quinta-feira, depois de uma reunião entre o presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, e o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Shimon Peres.
Atentados adiam apoio à Palestina
A Administração Bush preparava-se para apresentar um plano de paz para o Médio-Oriente, que incluía o apoio dos EUA à criação de um Estado palestiniano, quando ocorreram os atentados de 11 de Setembro, afirmaram esta semana fontes oficiais.
A proposta americana seria apresentada de forma detalhada pelo secretário de Estado norte-americano, Colin Powel, na assembleia geral das Nações Unidas, sendo a primeira vez que uma administração republicana apoiaria a criação de um Estado palestiniano.
A questão israelita, que não constituiu uma prioridade nos primeiros oito meses da presidência de George W. Bush, assume agora outra importância, com os EUA a tentarem angariar apoios de países árabes na luta contra o terrorismo e estes imporem como condição um maior empenhamento dos Estados Unidos na resolução da crise do Médio Oriente.
Lisboa
Assinalar o aniversário da revolta
«O povo palestiniano tem o direito à edificação do seu estado independente em Gaza e Cisjordânia com capital em Jerusalém Leste», afirmou o Conselho Português para a Paz e Cooperação na manifestação realizada no passado dia 28 em frente à embaixada de Israel em Lisboa que reuniu largas dezenas de pessoas, para assinalar o primeiro aniversário da Intifada.
A exigência foi expressa na carta do vice-presidente do CPPC, Domingos Lopes, ao embaixador de Israel em Portugal. Apesar de não ter sido recebida, a delegação do CPPC deu a conhecer o conteúdo da missiva, onde vem expressa a convicção de que o conflito reside na «obstinada política dos governos israelitas de impedir ao povo palestiniano» o direito a erigirem o seu estado.
Quanto à violência que se vive na região, o CPPC considera que foi a ocupação militar de Junho de 1967 que levou à resistência e que «enquanto essa ocupação permanecer, é previsível que continue a fonte de instabilidade e de violência». É igualmente aos líderes israelitas que se deve responsabilizar pela segunda Intifada, nascida da «provocação de Ariel Sharon na esplanada das mesquitas». Seis centenas de mortos e dezasseis mil feridos palestinianos é, até agora, o preço pago pelo povo da Palestina pela provocação do agora primeiro-ministro israelita.
Afirmando-se contra o terrorismo e, por isso mesmo, contra a política
de estado de Israel, o CPPC exigiu o «fim imediato da brutal acção
repressiva com o recuo das forças israelitas para as posições
que ocupavam antes do dia 28 de Setembro de 2000» e a implementação
urgente dos acordos assinados entre Israel e a Autoridade Nacional Palestiniana,
em particular no que concerne à retirada das tropas dos territórios
ocupados e à libertação dos presos políticos.
«Avante!» Nº 1453 - 4.Outubro.2001