Terrorismo americano
Manoel de Lencastre
O terrorismo está na ordem do dia. Mas é um
terrorismo privado, sem cara, inidentificável, sem bases à vista,
que percorre o mundo, escondendo-se, para atacar alvos indefesos. Deixa os seus
próprios mártires no terreno, conjuntamente com as suas vítimas
quase sempre inocentes. Depois, busca refúgio e espera que passe tempo
até reunir condições para atacar de novo. Foi esta espécie
de terrorismo sem estandarte que atacou e deixou a sangrar o coração
da América.
Todavia, esta mesma América não deveria pretender-se estranha
aos métodos terroristas que os seus sucessivos governos têm praticado
em diversas partes do globo. Julgando-se imune, tinha fechado os olhos, até
agora, aos crimes do seu próprio terrorismo de Estado. E o mundo, ainda
que prestando homenagens sentidas às vítimas inocentes cujas vidas
foram ceifadas no «World Trade Centre», não pode esquecer,
também, os actos terroristas levados à prática pelos governos
de Washington, sempre em situações repugnantes.
As bombas atómicas que o presidente Truman mandou lançar de super-fortalezas
voadoras sobre Hiroshima e Nagasaki causaram 120 000 mortos, instantaneamente,
quando a vitória militar sobre o Japão estava garantida. Truman
disse que era necessário apressar o fim da guerra, mas o que pretendia
era demonstrar que a América possuía a arma decisiva para dominar
todos os países. Então, desejoso de concretizar esse domínio
e suster o progresso das forças anti-imperialistas, Truman obteve um
mandato das Nações Unidas para intervir na Coreia e originar um
conflito que eternizou a divisão daquele país. No processo, muitos
milhares de soldados, incluindo americanos, deixaram as suas vidas na Coreia
por causa dos interesses imperialistas.
O terrorismo de Estado praticado pelos Estados Unidos colocou o mundo, em diversas
ocasiões, à beira da catástrofe que seria um conflito com
armas nucleares. Ao longo da guerra fria, por eles planeada, os americanos ameaçaram,
constantemente, os povos que não aceitassem ser dominados por capitalistas.
Nas Américas Central e do Sul, instauraram ditaduras chefiadas por «gangsters»
ou militares sanguinários que aterrorizavam os seus povos e deles fizeram
escravos dos interesses do sistema económico americano.
A tentativa de invasão de Cuba (1961) após uma campanha de ódio
que persiste, deu lugar a uma perigosa crise internacional. As invasões
do Panamá e de Granada, foram actos que sujaram o nome dos Estados Unidos.
O criminoso golpe de Estado organizado no Chile (1973) revoltou todos os cidadãos
do mundo. O desembarque no Líbano, país que recusara aderir ao
sinistro Pacto de Bagdade, daria expressão política a uma incompreensível
hostilidade contra o Egipto e a revolução nasseriana (1952) e
à recusa a fornecer auxílio financeiro para a construção
da barragem de Asswan - o que a fraternal URSS fez. A partir dessa altura, os
Estados Unidos decidiram colocar o peso da sua influência, do seu dinheiro
e da sua capacidade militar ao serviço dos sionistas para que as aspirações
do povo da Palestina fossem esmagadas em sangue.
Israel, assim, tornou-se no comissário policial americano no Médio
Oriente. A sua missão passou a consistir na repressão por todos
os meios, incluindo bélicos, dos instintos de liberdade dos povos árabes
para que a exploração de vastos jazigos de petróleo existentes
em todo o Médio-Oriente não fosse perturbada. Os tristes resultados
da expansão e das guerras israelitas estão à vista. E,
agora, enquanto os sionistas torturam a nação árabe e lhe
fazem correr o sangue, a grande América, como se escrava de forças
que não pode já controlar, vê-se servidora de Israel quando
as suas intenções tinham sido outras.
A guerra do Vietname, onde os Estados Unidos sofreram uma imensa derrota e
registaram mais de 50 000 mortos, está, ainda, bem na memória
de todos os que acompanharam a sua bárbara, imoral e sádica conduta
durante o conflito. A guerra do Golfo, conducente, também, à humilhação
dos povos árabes sob formas diversas, tem dado lugar à escravização
do Iraque cujo sofrimento continua a ser de todos os dias. Por outro lado, a
guerra contra a Jugoslávia, em plena Europa civilizada, deu a medida
das reais intenções de Washington - agora que a URSS passou à
História (mas não está esquecida) o mundo deveria submeter-se
à nova ordem americana. E Belgrado sofreu ..
Mas o destino das nações, como o dos homens, é ziguezagueante
e complexo. A actual crise dos imperialistas americanos é mais uma entre
tantas que têm experimentado.
«Avante!» Nº 1453 - 4.Outubro.2001