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«Combustíveis»
A guerra dentro de casa




Lá fora é a guerra. As bombas. O Inverno. No seu apartamento, que contém uma imensa biblioteca, o professor alberga o seu assistente, Daniel, e a companheira deste último, Marina, uma jovem estudante. Morrem de frio e para se aquecerem não lhes resta senão os livros para queimar.

Este é o cenário da peça «Combustíveis», de Amélie Nothomb, que será levado à cena pela Efémero- Companhia de Teatro de Aveiro. A encenação e a dramaturgia é de Rui Sérgio e a interpretação de David Costa, Filipa Pinheiro e Jorge Fraga.

«Combustíveis» começa por colocar a questão sobre os livros que as personagens teriam menos escrúpulos em queimar, para encerrar sobre a questão humana, uma vez destruídas as obras.

As três personagens debatem-se com o frio e a dignidade humana. Daniel apegou-se aos ideais literários que o professor lhe transmitiu, mas estes não lhe permitem compreender o caos em que a vida se tornou.

Marina tem frio. Tudo serve para se aquecer. Para ela, a única maneira de sobreviver é queimando os livros. Mas sabe também que, uma vez destruídos, a sua vida deixará de fazer sentido.

Os efeitos perversos da guerra. Os seus danos colaterais. O inferno da guerra espelhado nas relações de três seres humanos. O cinismo, a crueldade, a perversidade, a evidência diabólica do ser humano no limite da sobrevivência.


Espectáculo no Avanteatro em 2001


«Full in a Empty Room»
O progresso inalcansável

Durante os espectáculos de teatro de dança apresentados no espaço do Avanteatro, decorrerá o hapenning «Full in a Empty Room», sem horário marcado. Fernando Chainço dá corpo a esta performance que fala sobre a solidão e a forma como contrasta com o avanço tecnológico e sobre o fascínio que este provoca ao melhorar a sociedade.

Como refere o autor, o hapenning fala ainda «de como nos deslumbramos com máquinas das quais saiu um novo modelo, e de como esse modelo daqui a uns tempos será deitado fora; de como nos deslumbramos com a complexidade do corpo humano e nos referimos às suas qualidades de uma forma tão superlativa e de como nos desfazemos das pessoas, essas máquinas tão perfeitas, colocando-as em asilos, fora do nosso entusiasmo tecnológico, como se os nossos gestos para com os outros fossem meros factos consumados».

«Imagino um local de onde um dia todas as pessoas desapareceram, só restando as suas máquinas. Agora desocupadas, elas querem continuar a agradar, mesmo que a um mundo vazio», acrescenta Fernando Chainço.

A performance nunca estará completa porque o assunto que aborda sofre uma dialéctica constante.


André Louro e João Lima
A música no teatro

André Louro e João LimaAndré Louro e João Lima são os protagonistas de um espectáculo de piano e guitarra portuguesa, instrumentos com tradições e sonoridades que raramente encontramos unidas.

O resultado é um conjunto de musicas heterogéneas, ricas na diversidade plástica das suas imagens e estrutura musical, que vai desvendando pequenas histórias. É um repertório marcadamente teatral que se revela no discurso.

A voz teatral, o tempo e a expressividade plástica que palpitam no trabalho de André Louro e João Lima não são estranhas ao seu percurso artístico. Ambos colaboram com companhias de teatro na criação de temas originais e estão envolvidos nas áreas da vídeo-dança, performance e instalação, para as quais desenvolvem músicas e ambientes sonoros integrados.

«Avante!» Nº 1497 - 8.Agosto.2002