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«Fotografando o Passado»,
uma exposição de Humberto Martins
Entre Trás-os-Montes e a Galiza




A aldeia transmontana de Tourém foi fotografada por Humberto Martins, enquanto preparava uma tese sobre as relações entre Portugal e a Galiza. O resultado poderá ser visto na Festa.

«Fotografando o Passado» é o título da exposição de fotografia que estará patente no espaço do Avanteatro, mas o que é retratado é o presente da população de Tourém, uma pequena aldeia do concelho de Montalegre, na região transmontana do Barroso, na fronteira Norte de Portugal com a Galiza.

O autor, Humberto Martins, desenvolveu este trabalho como complemento da tese de doutoramento em Antropologia Social que concluiu na Universidade de Manchester, intitulada «Memória e relações de fronteira numa povoação barrosã, Tourém».

Para ele, o conjunto das fotografias mostra «uma realidade distante no tempo e no espaço e uma forma diferente de os interpretar», uma povoação que mantém «traços de um tempo diferente». «Nos usos e costumes locais ainda se sente o cheiro, os sons e as imagens de um tempo impossível… atrás dos montes, de um passado recortado em dificuldades, pobreza e comunitarismo agro-pastoril», acrescenta Humberto Martins.

O trabalho mostra uma população orgulhosa da sua terra e das suas tradições e um quotidiano feito de trabalho e de consciência do passado. Mostra a falta de água e os rebanhos, os pastos colectivos e os montes. Mostra «um progresso difícil de entender», com o médico galego a visitar a aldeia uma vez por semana para «cuidar das maleitas dos velhos que regressaram depois de anos em Lisboa, no Porto, em França e no Brasil para viver tranquilamente com a boa água e os bôs ares da montanha».

Afecto e ciência

Nas palavras do autor, trata-se de «uma tentativa de fazer antropologia visual através do uso de fotografia a preto e branco». «Diz-nos a máxima da antropologia visual que há sempre um tratamento criativo da realidade quando se mediatiza qualquer observação», explica Humberto Martins. «Este trabalho é também por isso uma forma pessoal de mostrar um afecto que não revelo na escrita da tese. Talvez um complemento contraditório e o partilhar da minha experiência de observação com outros públicos», refere.

A exposição foi inicialmente organizada pelo Núcleo de Fotografia da Casa Municipal da Juventude de Cacilhas, onde esteve patente durante o mês de Julho com o apoio da Câmara Municipal de Almada.

Licenciado em Sociologia e mestre em Antropologia Visual e Práticas e Representações Sociais, Humberto Martins está a desenvolver um trabalho sobre antropologia visual no Granada Centre for Visual Anthropology, na Universidade de Manchester, desde 1998.

 

«Avante!» Nº 1497 - 8.Agosto.2002