Vladimiro Vale, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP

Desenvolvimento, meio ambiente e água pública

Image 12035

«Como se afirma nas teses, esta crise do capitalismo distingue-se de outras pela sua extensão e por ter expressões em vários planos. O ambiental é um deles. Aprofunda-se instrumentos que querem aplicar ao ambiente as regras de funcionamento do capitalismo. Não querem apenas privatizar os bens materiais que podem ser retirados da natureza, querem ir mais longe e privatizar as funções e processos da natureza. Chamam-lhes serviços ambientais, atribuem-lhes um preço e colocam-nos no mercado.

Aquando da conferência de Copenhaga em 2009, o Partido denunciou que os mecanismos decorrentes do protocolo de Quioto, que apontam soluções de mercado para a regular a emissão de CO2, já provaram a sua ineficácia, têm inerente a ânsia de ingerência nos países em desenvolvimento e pretendem transferir os custos e responsabilidades para as populações e povos do mundo.

Estes mecanismos passam ao lado da irracionalidade e insustentabilidade do capitalismo e da sua natureza, que o tornam incapaz de resolver os problemas da humanidade, e escondem que é o capitalismo que destrói a capacidade produtiva local aumentando os ciclos de produção; que aumenta fluxos brutais de energia e matéria para satisfazer as suas necessidades, que coloca em causa o ambiente, a soberania dos povos e a sua segurança alimentar em nome do lucro de alguns.

As emissões que contribuem para o efeito estufa são um problema grave. Mas não se resolvem pela criação de uma máquina bilionária de geração de activos financeiros fictícios, em tudo semelhantes aos gerados pelos mercados especulativos bolsistas.

Por isso é que temos que defender a produção nacional, reduzindo a amplitude dos ciclos de produção e consumo, e travar a liberalização do comércio mundial, factor de incentivo no aumento do consumo energético e de emissão de gases com efeito de estufa, para além do mais com graves consequências no plano económico e social.

Em Portugal, os sucessivos governos PS, PSD e CDS procedem com o habitual seguidismo face a todos os ditames do directório do capital. Na área da conservação da natureza, a legislação já permite a privatização da gestão das áreas classificadas, abrindo a possibilidade de amplas e importantes regiões do País serem geridas e exploradas de acordo com os interesses de privados.

Temos que proteger os ecossistemas naturais, terrestres e marinhos, e recuperar os ecossistemas degradados. Para tal é preciso romper com a lógica de destruição ao sabor dos grandes interesses privados. Só a democratização da gestão e do usufruto dos recursos naturais, o incentivo de uma participação efectiva das populações e uma política orientada para a promoção e elevação da qualidade de vida destas, pode travar a tendência de degradação e destruição do património natural de Portugal.

Os sucessivos governos têm orientado a política da água no sentido da criação de oportunidades de negócio, favorecendo os grupos económicos do sector. A premissa é simples: a água é apenas mais uma mercadoria que pode gerar lucros assombrosos para os concessionários do negócio, à custa das populações que sem ela não podem viver, impondo-lhes taxas e tarifas destinadas a rentabilizar o negócio.

PS, PSD e CDS começaram a abrir a porta à privatização em 2005, com as leis da Água e da Titularidade dos Recursos Hídricos. Estas criaram a base legal para a privatização de toda a água do território nacional e para a instauração do mercado da água, a sua completa mercantilização.

A mercantilização da água avança aceleradamente, entregando a água da natureza a privados. A privatização do grupo Águas de Portugal, que já controla a maioria dos sistemas de abastecimento «em alta» de água e saneamento, não só transformaria a água em mercadoria como retiraria às populações e ao poder local qualquer possibilidade de intervenção democrática na sua gestão.

O PCP tem vindo a sustentar a sua intervenção sobre a política da água em quatro premissas fundamentais, interligadas e interdependentes:

Direito de todas as pessoas à fruição dos benefícios da água;

Responsabilização do Estado em garantir as funções sociais, ecológicas e económicas da água;

Reforço do papel das autarquias locais na administração da água e dos serviços de abastecimento às populações;

Gestão democrática e participada dos recursos hídricos;

Tal como o PCP tem vindo a dizer, só com uma profunda ruptura política assente numa perspectiva patriótica e de esquerda, se constrói um Estado capaz de gerir e proteger a natureza e as áreas protegidas de acordo com os princípios e comandos constitucionais, e, acima de tudo, capaz de colocar a riqueza natural do país ao serviço do povo e do desenvolvimento nacional, e não ao serviço do desenvolvimento dos interesses privados.

É preciso intervir nestas áreas potenciando intensificando a luta dos trabalhadores e das populações. A luta por um mundo mais respeitador do ambiente está inseparavelmente ligada à luta para reduzir as injustiças sociais e à luta por uma sociedade que se eleve acima das leis da economia de mercado. Os problemas da natureza não se resolvem enganando-a para fazer lucro.



Mais artigos de: Em Foco

A grande força da alternativa

O XIX Congresso do PCP, que teve lugar entre sexta-feira e domingo em Almada, elegeu o novo Comité Central, definiu as orientações para os próximos quatro anos e aprovou as alterações ao Programa do Partido. Como afirmou, no encerramento, Jerónimo de Sousa, «importa agora prosseguir a edificação da obra: reforçar o Partido, alargar e intensificar a luta, afirmar a necessidade e a possibilidade da política alternativa patriótica e de esquerda, cimentar e construir uma alternativa política capaz de a concretizar.»

Solidariedade com quem luta e resiste

O XIX Congresso do Partido aprovou por unanimidade duas moções: uma sobre a construção da alternativa e outra de solidariedade com os trabalhadores e os povos em luta.

«Sim, estamos confiantes»

Permitam-me que comece por uma saudação ao principal obreiro deste XIX Congresso do PCP. Saudação ao nosso colectivo partidário, aos militantes, às organizações e organismos – que, no quadro das linhas de orientação do...

Composição <br>do Comité Central <br>eleito no XIX Congresso

O Congresso, na sessão reservada aos delegados, a 1 de Dezembro de 2012, elegeu o Comité Central. Participaram na eleição 1219 delegados, sendo o Comité Central eleito por maioria, com 1184 votos a favor, correspondendo a 97%, 14 votos contra e 21 abstenções.A eleição fez-se por voto secreto, por imposição da antidemocrática Lei dos Partidos. Publicamos os nomes e biografias dos camaradas eleitos. A negro, estão os eleitos que não integravam o Comité Central cessante.

A crise do capitalismo<br> e a integração capitalista europeia

Saudamos todos os delegados e convidados ao nosso Congresso e de forma especial as delegações estrangeiras a quem expressamos a solidariedade dos comunistas portugueses para com as suas lutas. O quadro internacional é marcado por uma profunda crise. Uma crise que...

Sobre a proposta de Resolução Política

O Regulamento aprovado pelo Comité Central para a fase de debate no Partido das Teses/Projecto de Resolução Política estabelece no seu artigo 12º o dever de os documentos apresentados ao Congresso serem acompanhados de informação e...

Maior conhecimento e compreensão do Programa do Partido

O Regulamento aprovado pelo Comité Central para a fase de debate no Partido do Projecto de alterações ao Programa do Partido estabelece no seu artigo 12.º o dever de os documentos apresentados ao Congresso serem acompanhados de informação e...

O Poder Local e as eleições autárquicas de 2013

Como disse Álvaro Cunhal, em 1981, na conferência do PCP, «o Poder Local, tal como o estatui a Constituição, é uma afirmação do carácter progressista, avançado e eminentemente popular do regime democrático instaurado...

Avante! – papel único e insubstituível

Na luta que o nosso Partido trava todos os dias, pelos seus objectivos de cada momento e pelo seu objectivo supremo de construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados, a imprensa partidária – o Avante! e O Militante - desempenha um papel de...

Composição dos organismos executivos<br> do Comité Central

O Comité Central eleito no XIX Congresso realizou a sua primeira reunião plenária no dia 1 de Dezembro de 2012 e elegeu os organismos executivos, a Comissão Central de Controlo e o Secretário-geral. A Comissão Política e o Secretariado do Comité Central, e a Comissão Central de Controlo foram eleitos por unanimidade. O Secretário-Geral do Partido, camarada Jerónimo de Sousa (que entendeu não votar na sua própria eleição), foi eleito por unanimidade.

Relatório da Comissão Eleitoral

O Congresso é o órgão supremo do Partido ao qual compete eleger o Comité Central, na base da proposta feita pelo Comité Central cessante, que os delegados apreciam, podendo fazer propostas nos termos do regulamento aprovado pelo Congresso. De acordo com o...

«Por aqui perpassou a confiança»

Eis-nos chegados ao limiar do encerramento do XIX Congresso. Para aqui chegar tivemos de percorrer, desde Fevereiro, um processo que envolveu largos milhares de militantes e amigos do Partido, que mobilizou todas as organizações partidárias, de Norte a Sul do...