Palco Paz

Alegria de viver e de tocar

Pedro Fernandes

Os ar­tistas que ao longo dos três dias da Festa do Avante! pi­saram o Palco Paz cum­priram a pro­messa de uma pro­gra­mação di­ver­si­fi­cada e de qua­li­dade. A estes juntou-se um pú­blico alegre que só acres­centou ao bom am­bi­ente que ali se fez sentir.

O PCP, os seus mi­li­tantes, amigos e sim­pa­ti­zantes vol­taram a de­mons­trar que nin­guém ergue uma festa como aquela que acon­tece anu­al­mente na Ata­laia. Foi isso o que a 45.ª edição da Festa do Avante! de­mons­trou ser: linda, in­crível, gran­diosa, (quase) in­des­cri­tível.

Para quem já lá es­teve e viveu três dias do mais puro sen­ti­mento de fra­ter­ni­dade que ali se res­pira, neste ou noutro ano an­te­rior, não é no­vi­dade a va­ri­e­dade de mo­mentos e es­paços ca­pazes de aguçar o in­te­resse de qual­quer vi­si­tante. Ainda assim, nesta Festa, o Palco Paz foi par­ti­cu­lar­mente en­tu­si­as­mante. Do rock psi­ca­dé­lico e da mú­sica li­geira ao jazz e à mú­sica tra­di­ci­onal do pla­nalto de Mi­randa, no mais re­cente palco da Festa do Avante!, não houve vi­si­tante que não tenha en­con­trado algo de que não gos­tasse.

«O im­por­tante da Festa são as pes­soas»

A pri­meira Car­va­lhesa do Palco Paz soou quase ime­di­a­ta­mente após a men­sagem de boas-vindas de Je­ró­nimo de Sousa ecoar por todo o re­cinto. Era o toque de cha­mada para os Rua en­trarem em cena.

Oriundos de Lisboa, o grupo en­con­trou um pú­blico an­sioso e ex­pec­tante na pla­teia, mas foi o ritmo tra­di­ci­onal ves­tido de uma so­no­ri­dade con­tem­po­rânea que atraiu a atenção dos que su­biam ou des­ciam as ala­medas que la­de­avam o palco, dos que des­fru­tavam da vista pri­vi­le­giada do Es­paço Aveiro logo atrás da pla­teia ou dos que apro­vei­tavam a sombra do lado es­querdo da pla­teia.

Para os Rua, que «já não to­cavam ao vivo “há não sei quanto tempo”», o me­lhor do seu con­certo foi terem a opor­tu­ni­dade de estar com pes­soas a ouvir a sua mú­sica.

A noite no Palco Paz con­ti­nuou com mais dois con­certos, o úl­timo dos quais de Toy. Sem sombra para dú­vidas, este foi um dos mo­mentos mais mar­cantes das muitas horas de pro­gra­mação da­quele palco.

Não existem muitas pes­soas que não o co­nhecem. Dos que o co­nhecem, poucos são os que não estão ci­entes da sua ca­pa­ci­dade de rein­venção e do ta­lento para sur­pre­ender. Toy é um mú­sico do povo e soube agradar à pla­teia. Num con­certo com forte cunho po­lí­tico, o mú­sico na­tural de Se­túbal não es­condeu o seu rei­te­rado apoio à CDU e a sua afi­ni­dade com o PCP. Muito em­bora não seja mi­li­tante, afirmou, é o Par­tido com o qual se iden­ti­fica.

A noite que se fez sentir fresca no Seixal foi com­ple­ta­mente to­mada pelo calor hu­mano tão pró­prio do sen­ti­mento de ale­gria que ali se viveu. Mo­mentos iné­ditos foram ainda a in­ter­pre­tação dos temas Traz outro amigo também e Vejam Bem, de José Afonso, uma pe­quena ho­me­nagem a Adriano Cor­reia de Oli­veira e ainda uma curta in­ter­pre­tação de AIn­ter­na­ci­onal.

Mú­sica do mundo

No sá­bado, La Mau­vaise Ré­pu­ta­tion não foi a pri­meira banda a pisar o palco, mas fê-lo de forma con­fi­ante. Va­nessa Borges, João No­vais e Gon­çalo Men­donça trou­xeram con­sigo o ob­jec­tivo de as­si­nalar o cen­te­nário do nas­ci­mento de Ge­orges Bras­sens, um dos mai­ores nomes da Canção Fran­cesa. O pú­blico aclamou-os quando apre­sen­taram o tema que dá nome ao seu grupo, La Mau­vaise Ré­pu­ta­tion (ou A Má Re­pu­tação).

Já no do­mingo, o Palco Paz re­cebeu também os con­certo de Senza e Hill’s Union. Os pri­meiros gui­aram os vi­si­tantes da Festa por uma enorme vi­agem. As suas mú­sicas são sobre as suas vi­a­gens. Da mesma forma que um fo­tó­grafo se vê ten­tado a cap­turar uma vi­agem e um es­critor a es­crevê-la, os Senza ex­pressam todas as suas emo­ções e me­mó­rias das vi­a­gens que re­a­li­zaram através da mú­sica.

Os Hill’s Union for­maram-se com o ob­jec­tivo de dar a a co­nhecer a obra do sin­di­ca­lista e com­po­sitor es­tado-uni­dense Joe Hill. Desde então, o seu re­per­tório dis­tan­ciou-se da ideia ori­ginal, mas foi assim que aba­naram o pú­blico que no úl­timo con­certo do Palco Paz es­pe­ravam um bom adeus: uma fusão entre um rock po­de­roso e blues, com muita cons­ci­ência de classe à mis­tura.

Novos va­lores

Pu­çanga, Zé Can­tigas e El Gordo, Con­junto Júlio e Feynman foram as quatro bandas fi­na­listas ou con­vi­dadas pelo Con­curso de Bandas da Ju­ven­tude Co­mu­nista Por­tu­guesa. Tanto umas como ou­tras, com di­fe­rentes es­tilos, ac­tu­a­ções e gé­neros mu­si­cais, sou­beram mos­trar al­guns dos novos e pro­mis­sores novos va­lores da mú­sica por­tu­guesa.

 

Va­lo­rizar a cul­tura e a tra­dição

No Palco Paz a tra­dição, para além da qua­li­dade e do valor de todos as ac­tu­a­ções que por lá pas­saram ao longo dos três dias, as­sumiu uma forte pre­sença na pro­gra­mação.

Quatro dos 13 grupos ou ar­tistas que su­biram ao Palco Paz trou­xeram con­sigo à Festa do Avante!, e de forma so­berba, so­no­ri­dades muito li­gadas aos sons tra­di­ci­o­nais por­tu­gueses.

Logo na noite de sexta-feira, as gaitas-de-foles dos Cabra Çega anun­ci­aram ao que o grupo, que en­trou em palco sem ro­deios, vinha: «Boa noite Avante! Bem-vindos ao me­lhor con­certo das vossas vidas!». Os sons mais lentos e sus­pensos in­ter­me­di­ados com os ritmos mais fre­né­ticos de rou­pagem mais mo­derna mar­caram o con­certo do grupo que afirmou no final «Isto não é um fes­tival, é uma Festa. Tem ale­gria, amor e ami­zade. Isto não há em mais lado ne­nhum».

Já a Or­questra de Foles, que ac­tuou no sá­bado, não deu um toque mo­derno à sua mú­sica. Não foi pre­ciso, o pú­blico bailou e dançou da mesma forma ao som das gaitas que quase evocam um Por­tugal de ou­trora ou o pla­nalto Mi­randês.

Ainda no sá­bado, a se­guir à Or­questra, en­traram Os Bur­ricos, que na sua to­ta­li­dade lem­bram e res­piram cul­tura mi­ran­desa. Desde o nome, uma ho­me­nagem ao burro mi­randês, um ele­mento cen­tral da cul­tura mi­ran­desa, até aos ins­tru­mentos e língua em que to­caram e can­taram.

Por fim, a Cha­rangaen­cerrou o Palco Paz no se­gundo dia da Festa. Desta vez, a es­trela foi o can­ci­o­neiro po­pular por­tu­guês e ga­lego, com di­fe­rentes nu­ances e re­cursos que foram ca­pazes de dar a estas mú­sicas tra­di­ci­o­nais um novo folgo e novas rou­pa­gens.

 

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Agradecimentos

O PCP agradece a todas as entidades, públicas e privadas, que contribuíram para a realização da Festa do Avante!. À Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, à Associação de Colectividades do Concelho do Seixal e a muitas outras associações, colectividades e clubes desportivos. Ao...

Fotógrafos da Festa

Ana Ferreira Ana Isabel Martins Fernando Monteiro Inês Seixas Jaime Carita José Baguinho João Lopes Jorge Cabral Jorge Caria José Carlos Pratas José Coelho José Frade Luís Duarte Clara Manuel Pinto Jorge Mário Saldanha Miguel Mestre Nuno Lopes Nuno Trindade Nuno Sousa Paulo Oliveira Paulo Silva...