Pretendendo alcançar a grande diversidade de leitores que a Festa convoca, continuamos este ano a trabalhar para trazer o maior número de autores e temas que possam desinquietar expectativas e desenvolver o pensamento e a criação. Se o cuidado da escolha de novidades é essencial nesta Festa do Livro, não deixa de pesar com a mesma urgência a presença dos livros de sempre, desde logo pelo papel fundamental que desempenham enquanto desafiadores do tempo. Do livro infantil ao ensaio científico, passando pela poesia, a ficção estrangeira, a História, a Filosofia, a Banda Desenhada, o teatro e a ficção de autores portugueses, são muitos os livros, que trazem consigo autores e conversas, que se estendem ao auditório e à nova esplanada de autógrafos, onde as palavras continuarão a trilhar caminhos de liberdade.

Contacto com livros e autores

O auditório é um espaço privilegiado de contacto entre os leitores e os livros. Como vem sendo habitual, haverá uma programação muito diversificada, e com um amplo leque de temas. Nome maior da literatura portuguesa e mundial, José Saramago, presença regular na Festa e seu construtor, terá um importante destaque, nomeadamente com a apresentação do livro José Saramago, Um Escritor com o seu Povo. Em 2022 assinalam-se também os 80 anos do nascimento de Adriano Correia de Oliveira, e por isso a Festa do Livro terá uma sessão em torno de dois livros saídos este ano: O Perigoso Pacifista, uma banda desenhada da autoria de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas, e o livro de depoimentos Adriano, Um Canto em Forma de Abril – 80 Anos.

As questões da actualidade política, económica e social, e os caminhos para a transformação da realidade, têm igualmente um grande destaque na programação do auditório: da antologia Os Processos Revolucionários: Análise Concreta e Perspectivação Histórica, que junta vários textos que Albano Nunes tem escrito para artigos, conferências, congressos e iniciativas diversas, a Energia e Recursos na Transição Energética – Soberania, segurança, ambiente, desenvolvimento, com materiais do encontro que o PCP realizou em Maio deste ano sobre estes assuntos, de redobrada actualidade, passando por O Neoliberalismo Não É Um Slogan, de João Rodrigues, que demonstra como o neoliberalismo não só não resolve como agrava os problemas e as desigualdades económicas, sociais e políticas, e A Integração Europeia: Um Projecto Imperialista, de António Avelãs Nunes, onde se reflecte criticamente sobre o projecto capitalista europeu e as velhas e novas formas de colonialismo. A situação internacional, marcada por uma grande instabilidade e incerteza, será o centro no debate «Do Kosovo à Actualidade», que terá a participação do major-general Raul Cunha e de José Goulão, com vários livros publicados sobre questões internacionais. Algumas destas questões estarão seguramente presentes em outras sessões, nomeadamente no debate «O impacto internacional da obra de Álvaro Cunhal», com tradutores de várias línguas da obra de Álvaro Cunhal, tanto de ensaio como de ficção.

Sobre a luta e a resistência antifascistas, duas sessões em particular: Os Presos e as Prisões Políticas em Angra do Heroísmo, uma edição da URAP, na senda do distinto trabalho que vem desenvolvendo, e Chão da Casa, com texto de João Monge e ilustrações de Jorge Pé-Curto, com três poemas sobre os primeiros 100 anos do PCP.

Será sobre poesia e muito mais, certamente, a sessão da Escrita em Pessoa deste ano na Festa do Livro. Domingos Lobo. Autor de uma multifacetada obra, que para lá da poesia inclui também romances, teatro e crítica literária, e com livros novos saídos neste ano – Coração Modelado em Labareda e Faz Frio Neste Lado da Noite –, estará à conversa com José António Gomes.

Falta referir ainda duas sessões que vão decorrer no auditório da Festa do Livro: Para Um Manual de Acção Política, uma obra colectiva com autoria e coordenação de Pedro Penilo, e Desenho e Criação no Trabalho Cenográfico em Portugal, de Filipa Malva. Embora de teores diferenciados – a primeira, como o nome indicia, é uma espécie de manual para a actividade política, a segunda reúne entrevistas com alguns dos principais cenógrafos e figurinistas em Portugal –, ambas demonstram o valor do trabalho colectivo na acção humana.

Novos livros

Com um programa destes, seguramente será um auditório cheio para muitas horas de conversa e debate. Os livros, como se disse acima, são muitos, uns já presença habitual na Festa, outros vão agora pela primeira vez: uma nova edição das Obras de Soeiro Pereira Gomes num só volume, a edição de As Portas Que Abril Abriu de Ary dos Santos com ilustrações originais de Filipa Malva, a tradução, por José Barata-Moura, de Fenomenologia do Espírito, de Hegel, Forjado no Caos, novo livro de poesia de Pedro Estorninho, Falar e Escrever, uma obra de divulgação de João Pedro Gomes sobre a Linguística e a Fonética, O «Novo Normal», um ensaio sobre o mundo que já estava em construção e que a pandemia potenciou, da autoria de Manuel Loff, Tiago Vieira e Filipe Guerra, A Força da Palavra em Fernando Lopes-Graça, de Alexandre Branco Weffort, em torno dos textos escritos pelo compositor comunista, ou o novo livro de António Avelãs Nunes «para tentar compreender a guerra na Ucrânia». Com tantos livros e razões, não faltarão os leitores.