Orquestra Filarmónica de Braga e Canto D’Aqui

Criar algo de novo como forma de perpetuar a obra de Adriano

O grupo Canto D’Aqui, com um trajecto já longo de tributos a cantores de Abril, lançou mãos de um novo desafio: homenagear Adriano Correia de Oliveira e a sua obra. Pegaram nos temas e deram-lhes «novas roupagens, arranjos originais e sonoridade de Orquestra», contaram ao Avante!. É o resultado desse magnífico trabalho que teremos oportunidade de apreciar na Festa pela Orquestra Filarmónica de Braga e o Canto D’Aqui.

O Canto D’Aqui tem feito um trabalho frequente com orquestra filarmónica sobre temas de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira. Este ano trazem à Festa do Avante!, com a Orquestra Filarmónica de Braga, uma série de canções em torno da obra de Adriano. Como é que surgiu esta ideia de recriar, desta forma, as obras desses nossos cantores de protesto? Que momentos mais significativos ocorreram nesse percurso?

O grupo Canto D'Aqui há muitos anos que presta tributo aos cantores de Abril. Já em 2007, por altura dos 20 anos da morte de Zeca, o grupo Canto D'Aqui realizou um concerto de homenagem e em 2010 convidou Rúben de Carvalho para participar numa conferência/tertúlia sobre o Zeca Afonso, prontamente aceite. Em 2012 o grupo Canto Daqui foi o grande impulsionador do projecto "Amigos maiores que o pensamento" que prestava homenagem a Zeca e Adriano. Vários concertos encheram o Theatro Circo de Braga e a Casa da Música do Porto e desse trabalho resultou um CD e DVD.

Esse concerto tinha mais de 100 pessoas em palco com o Grupo Canto Daqui, Orquestra e vários coros de Braga e Porto. As casas cheias e os aplausos de pé são momentos marcantes.

 

E a escolha de cantores de protesto e de intervenção para esta experiência, e não de cantores sem intervenção política relevante, é intencional?

A escolha tem a ver com a parte musical e a intervenção e influência da música e da mensagem veiculada.

 

Especificamente sobre o concerto sobre Adriano: qual é o objectivo do Canto D’Aqui em recuperar a sua obra? Acham que ele estava a ser esquecido e tentaram, assim, recuperar a sua memória? Tentaram mostrar que uma abordagem com orquestra pode dar um sentido renovado às canções? Procuraram, apenas, associar-se às celebrações do 80.º aniversário do nascimento do artista?…

Adriano Correia de Oliveira foi sem dúvida um grande intérprete e compositor e é mais que merecido que a sua obra seja homenageada. Pegar nos temas e dar-lhes novas roupagens, arranjos originais e sonoridade de Orquestra é uma forma excelente de perpetuar a sua obra e dar a conhecer melhor o seu trabalho a quem não o conhece.

 

Como foram feitos a escolha do repertório e os arranjos para as canções? Foi um processo demorado? Quem foram os envolvidos? Quanto tempo de preparação e escrita demorou? Quantos ensaios fizeram antes da primeira apresentação pública? Foi um trabalho difícil?

Foi sobretudo um trabalho muito desafiante. Tratava-se de criar algo novo com temas que já tinham sido cantados pelas mais diferentes abordagens musicais e estilísticas e por muitos artistas de grande nome, por isso uma grande responsabilidade. Todos os arranjos são do maestro Filipe Cunha. O processo levou alguns meses porque eram muitos temas e os ensaios para o primeiro concerto duraram cerca de dois meses. O sucesso foi reconhecido por muitos que nos visitaram e ouviram esta nova sonoridade e esta nova abordagem. Janita Salomé disse uma vez, depois de participar num concerto em 2019 - "o que aconteceu neste teatro hoje foi fabuloso, nunca vi disto em Lisboa". Manuel Freire, Uxía, Sebastião Antunes, Francisco Fanhais etc... sempre elogiaram muito este projecto.

 

A base da Orquestra Filarmónica de Braga vem da Associação Cultural Canto Daqui, que a fundou em 2014. Qual é a história e objectivo desta associação e que obra tem feito?

A Orquestra Filarmónica de Braga foi criada em 2014 no seio da Associação Canto D’Aqui precisamente para realizar estes concertos mas a partir daí seguiu o seu próprio caminho. Mantêm a ligação à associação mas realiza desde então sinfónicos, com solistas, com artistas, etc...Esteve em digressão pela China no final de 2019 a apresentar o seu Concerto de Ano Novo - Strauss & friends em sete cidades e já gravou um disco de bandas sonoras de filmes.

 

O Adriano Correia de Oliveira foi, até ao fim da vida, militante do PCP, foi artista da Festa do Avante! e é uma pessoa muito querida e admirada entre os comunistas portugueses. Tudo aponta para que o espectáculo que vão dar na Festa seja um momento emocional muito forte. Esta “pressão” está na vossa consciência?

Sabemos da responsabilidade de homenagear Adriano e esperamos que o público goste do nosso trabalho e que seja um concerto magnífico, à altura do homenageado.





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