Migalhas e pobreza
«Justiça, coesão e sensibilidade». Assim sumariou, em declaração política em nome do PSD, o deputado Adão Silva as preocupações e a acção do Governo no domínio social. Um «mar de rosas» desmentido prontamente pelo deputado comunista Jorge Machado, que questionou se tais atributos estão presentes no roubo de cinquenta por cento do subsídio de Natal ou na alteração à legislação laboral que retira de forma significativa os montantes de indemnização dos trabalhadores que são despedidos.
«Onde está a sensibilidade social no aumento do IVA de 6 para 23 por cento no gás e electricidade, no aumento dos transportes públicos, no aumento do preço dos medicamentos, no congelamento dos salários e pensões?», perguntou, convicto de que não há «desconto ou descontinho» que compense o aumento do custo de vida que milhares e milhares de portugueses estão a sofrer à custa das opções políticas do PSD e CDS/PP.
Foi por isso inevitável a conclusão de que o discurso laranja sobre o «plano de emergência social» não passa afinal de «uma profunda hipocrisia», porquanto, frisou, ao mesmo tempo que o Governo agrava e dificulta a vida dos portugueses, no seu dia-a-dia, com o aumento dos preços, o congelar dos salários e o agravar da situação social, «anuncia depois uns descontos para os mais carenciados».
Mais, para Jorge Machado, o que esta perspectiva demonstra é «uma profunda alteração na concepção sobre a protecção social e o combate à pobreza». Trata-se, acusou, de uma perspectiva profundamente assistencialista, no pior sentido dos termos, com «um desconto para os mais pobres dos mais pobres, ao mesmo tempo que se atira para a pobreza cada vez mais e mais pessoas».
«Alimentam a pobreza de uma forma significativa para depois dar uma migalhazinhas aos mais pobres», verberou o deputado do PCP, para quem esta situação «é uma vergonha», a contrastar de forma flagrante com os mais de 12 mil milhões de euros disponibilizados para a banca e os banqueiros.
«É para estes que o PSD e o CDS/PP têm sensibilidade social, é para estes que governam, não é para a generalidade do povo», rematou.